28 de outubro de 2013

[DDI] Mudanças

Oi  gente, primeiro gostaria de me desculpar pelo pequeno hiato de postagens que o blog está passando, nesses últimos períodos não estava conseguindo manter uma regularidade de postagens, passava tempos postando sempre e depois chegava em uma temporada em branco. 
O que acontece é que esse blog é uma parte da minha vida, uma parte de mim e quando sofro mudanças ele acaba se adaptando, se renovando e mudando comigo. No início este era apenas um blog literário, todas as postagens se tratavam sobre livros e seu universo, porém mesmo que os livros sejam minha paixão, minha escolha de vida e minha profissão, vi que tinha mais a falar e escolhi em abordar sobre eventos, filmes, séries, músicas e peças de teatro, outras coisas que envolvem o meu universo. Mas agora, como a metamorfose ambulante que sou, estou em uma nova fase em que quero mudar, descobrir, inovar e a rotina não está conseguindo me completar, com isso o atual modelo de resenhas e o padrão de postagens não está em sintonia com o que estou sentindo e acabei perdendo o ritmo da escrita. 


Pensando em todos esses pontos quero tentar inovar o blog, mudar as postagens, experimentar e fazer com que esse pedaço tão importante de mim se encaixe com minha visão novamente, tudo é feito de mudanças e que os novos ventos façam do Olhos de Ressaca, esse meu espaço tão querido de margens vermelhas, uma casa, um aconchego, um espelho para mostrar uma pequena porção de tudo o que sou, essa confusão sem fim ou começo, sem um rumo certo a não ser o horizonte que meus olhos tocam quando olho para o futuro. 
Umas das mudanças que vou colocar aos poucos é essa coluna que vou chamar de DDI – Delírios, Devaneios e Insensatez em que vou falar sobre assuntos aleatórios, tem um dedinho de prosa contar meus pensamentos soltos em busca de ordem, seja ela qual for. 



6 de outubro de 2013

[Livro] A máquina de fazer espanhóis – Valter Hugo Mãe


Livro: A máquina de fazer espanhóis
Titulo Original: A máquina de fazer espanhóis
Autor: Valter Hugo Mãe
Editora: Cosac Naify
Ano: 2011
Avaliação: 5/5
Sinopse:
Com um estilo de prosa que José Saramago definiu como um “tsunami linguístico, semântico e sintático”, valter hugo mãe é o mais prestigiado autor de sua geração em Portugal. Em a máquina de fazer espanhóis, seu romance mais recente, valter hugo narra a história de antónio jorge da silva, um barbeiro de 84 anos que depois de perder a mulher, passa a viver num asilo.
 Sozinho, mas sem sucumbir ao pessimismo, silva se vê obrigado a investigar novas formas de conduzir sua vida. Ele, que viveu sob o peso da ditadura salazarista, faz também uma dura revisão de seu passado e de toda uma geração – não sem notar que o pessimismo sobre o papel de Portugal no mundo exacerbou-se. Considerado o acontecimento literário de 2010 em Portugal, a máquina de fazer espanhóis foi o segundo livro de ficção mais vendido naquele ano no país. A edição da Cosac Naify tem projeto especial, com capa desenhada pelo escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli. (Fonte: site da Cosac Naify) 


Comentários:
O que dizer sobre A Máquina de Fazer Espanhóis, simplesmente que foi um livro que me arrebatou, me embalou, me proporcionou sensações e emoções que eu nunca tinha pensado, ao explorar uma situação não muito trabalhada e de uma forma regada a sentimentos, reflexões e uma linguagem tão poética que se mistura a historia ligando as pontas no enredo. 
Quando vi que o tema do Desafio Literário do mês de setembro (sim, atrasei um pouco esse mês) era autores portugueses contemporâneos, logo decidi que queria colocar uma das indicações que tinha recebido há um tempo e iria ler o livro de Valter Hugo Mãe, mas estava difícil de adquiri-lo, seu preço nunca baixava até que em um dia feliz vejo pelas redes sociais que estava aberto o Cosacday  (período em que a editora Cosac Naify faz uma grande promoção de suas obras) e com isso finalmente consegui o livro que talvez seja um dos melhores do ano, A Máquina de Fazer Espanhóis. 
Logo ao abrir o exemplar a primeira reação é de estranhamento, a diagramação é muito diferente, o texto é alinhado a esquerda e não justificado. Sem contar que possui uma regra de acentuação própria, apesar de ter os pontos normais, é todo escrito em caixa baixa, não havendo letras maiúsculas após os pontos e sem separação para os diálogos. Outro diferencial é que o livro está em português de Portugal, então há acentuação diferente (como por exemplo, a palavra oxigénio) e um linguajar próprio. 
Após superar esse estranhamento inicial o que resta é toda uma linda história contando sobre antónio jorge da silva (assim mesmo, em caixa baixa, como no livro), que após perder sua esposa, é mandado para um asilo/casa de repouso e lá terá que se descobrir e se reinventar sem ela e já aos 84 anos. 

“não a posso deixar aqui sozinha. não estaria sozinha. estaria sozinha de mim, que é a solidão que me interessa e a de que tenho medo.” p. 14

Na verdade esse é um resumo muito simplório para toda a grandiosidade do livro, pois este trata de assuntos de grande amplitude, como a busca pela identidade dos portugueses após o domínio de Salazar e a grande metafísica da vida, e para demonstrar esse último tema o autor me encantou ao fazer uma intertextualidade com o poema Tabacaria de Fernando Pessoa (poema esse que amo). 

“um dia seremos cidadãos de um mesmo mundo. iguais, todos iguais e felizes nem que seja por obrigação. estamos a alastrar, como compete, e um dia ainda deixaremos de ser silvestres, agrestes, isso de ir como o mato, porque estaremos cada vez com melhores maneiras, como as que assistem aos grandes caracteres. um dia, caramba, estaremos até cheios de razão."  p. 13

Com uma linguagem poética, cheia de frases marcantes silva irá descobrindo sua vida e o que têm importância após a perda de um amor e de uma vida. A narrativa não é linear, irá intercalar momentos presentes com flashbacks da vida de antónio para mostrar a construção do personagem. 
Simplesmente encantador e marcante. 

“a coragem tem falhas sérias aqui e acolá. e nós, que não somos de modo algum feitos de ferro, falhamos talvez demasiado, o que nem por isso nos torna covardes, apenas os mesmos de sempre. os mesmos vulneráveis e atordoados seres humanos de sempre.” p. 102